Foto: Reprodução
Por: Revista Galileu
O Brasil registrou o primeiro caso de infecção por Trichophyton indotineae, um “superfungo” altamente resistente aos antifúngicos, que tem se espalhado globalmente. O caso clínico foi relatado em um artigo publicado em 14 de março nos Anais Brasileiros de Dermatologia, referente a um homem atendido em agosto de 2024. O paciente procurou assistência médica com lesões nos membros inferiores e glúteos, que eram amplas e causavam intensa coceira.
De acordo com o histórico médico, o paciente começou a notar os sintomas em janeiro de 2024, ainda antes de chegar ao Brasil. Durante suas viagens a países como Áustria, Eslováquia, Hungria, Polônia, Escócia e Turquia, locais onde o fungo é mais comum, ele pode ter sido exposto ao agente patógeno. Ao procurar atendimento dermatológico em Piracicaba (SP), um exame confirmou a presença de Trichophyton mentagrophytes, levando ao diagnóstico de dermatofitose e ao início do tratamento com terbinafina.
Sem resposta clínica satisfatória, a equipe médica optou por um antifúngico mais forte, o itraconazol, o que resultou na remissão dos sintomas após duas semanas. No entanto, as lesões retornaram assim que o tratamento foi interrompido. Tentativas subsequentes com fluconazol também falharam, levando os médicos a reiniciar o ciclo com itraconazol, mas a melhora foi novamente seguida por uma recaída rápida.
Dado o histórico de viagens para áreas endêmicas e a persistência dos sintomas, os médicos levantaram a hipótese de que a infecção fosse causada pelo superfungo. Um exame mais aprofundado das lesões confirmou a presença do Trichophyton indotineae. Este fungo é conhecido por causar infecções mais difíceis de tratar, devido à sua natureza resistente aos tratamentos convencionais.
Após um novo ciclo de itraconazol, o paciente apresentou melhora e foi liberado para retornar à Inglaterra, onde continua o tratamento para controlar as recaídas das lesões dermatológicas.
Sobre o Trichophyton indotineae
O Trichophyton indotineae foi identificado pela primeira vez em 2020, na Índia, e ainda são raros os relatos internacionais sobre ele. Esse fungo pode afetar pessoas de todas as idades e gêneros, sendo comum o aparecimento de lesões na virilha, glúteos, tronco e rosto. Acredita-se que a transmissão ocorra por contato direto com pessoas ou objetos contaminados. Sua resistência aos medicamentos existentes é atribuída a uma característica genética, o que faz com que os sintomas retornem frequentemente após o fim do tratamento, mesmo em pessoas saudáveis.
Embora o fungo não esteja associado a altos índices de mortalidade, ele pode representar sérios riscos para indivíduos imunocomprometidos. Nesses casos, o fungo pode penetrar na barreira cutânea fragilizada e atingir a corrente sanguínea, provocando infecções em outros órgãos.
Situação no Brasil
Este caso é o único registrado no Brasil até o momento, e o paciente não reside no país, tendo contraído a infecção no exterior. Embora a transmissão local não tenha sido observada, a experiência de outros países mostra o alto potencial de disseminação desse fungo. Assim, é crucial a vigilância e o diagnóstico precoce para evitar que a infecção se torne um problema de saúde pública.
O pesquisador John Veasey, um dos autores do estudo, aponta que não existem protocolos específicos ou ações de vigilância ativa direcionadas ao Trichophyton indotineae no Brasil. Ele sugere que a adoção de testes laboratoriais mais avançados e a capacitação de profissionais de saúde para identificar micoses diversas são medidas essenciais para prevenir a propagação. Além disso, alerta para os riscos da automedicação, especialmente o uso indiscriminado de pomadas combinando corticoides e antifúngicos, que pode mascarar os sintomas e dificultar o tratamento adequado, além de promover a resistência do fungo.
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